Depois de um longo período em baixa - em torno de cinco anos -, o mercado imobiliário começa a ensaiar uma retomada. De janeiro a outubro deste ano, o número de lançamentos na Bahia cresceu 44%, em relação ao mesmo período de 2018, e o de unidades comercializadas entre 5% e 8%, disse ontem, durante a convenção anual da entidade, o presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliária da Bahia (Ademi), Cláudio Cunha.
Para 2020 as projeções são ainda mais positivas. Existe a perspectiva de melhora da economia e do retorno da confiança do empresariado; de uma maior oferta do crédito - tanto para o financiamento à produção como para o consumo; da diminuição dos juros dessas operações para menos de 7%; e as taxas do PIB sendo revistas para 2,2%. Como resultado, há a previsão de um grande número de novos empreendimentos serem lançados ainda no primeiro semestre, algo em torno de 27.
"Desde o terceiro trimestre sentimos uma recuperação no volume de negócios entre os nossos associados com relação ao número de unidades lançadas. E isso se deve à retomada da economia, e de perspectivas de crescimento. As taxas do PIB começam a ser revistas pelos analistas, e o controle dos juros futuros deve diminuir os rendimentos de determinadas aplicações financeiras, trazendo de volta o investidor em imóvel. Nesse momento vai haver uma recuperação dos preços", prevê Cunha.
Mercado
A 30ª edição da convenção anual da Ademi começou 05/12 e vai até 08/12/19, em Praia do Forte.
"Nos reunimos aqui em dezembro para tratar, justamente, sobre tudo o que está interligado com o nosso setor. Falamos sobre política, crédito, fundos imobiliários; novas ferramentas nas transações comerciais; tecnologia, mudança de comportamento do consumidor; o que as pessoas esperam dos imóveis, e o que as empresas têm a oferecer para atender à nova demanda do mercado", disse.
Na abertura dos trabalhos, 30º convenção, o engenheiro, economista e presidente do Conselho da Foton Brasil, Luiz Carlos Mendonça de Barros, apresentou o "Panorama da Economia Brasileira de 2018 a 2022". Segundo o ex-presidente do BNDES e ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, a recuperação econômica "já está em andamento". "Mas essa é uma recuperação cíclica, que acontece naturalmente depois de um colapso, como nós tivemos recentemente no país".
"Resultado de uma boa gestão, que vem acontecendo desde o governo Temer, e até agora no de Bolsonaro. Com esse estímulo, e a solução do problema mais grave, que era a (reforma da) Previdência, que podia realmente levar as finanças do Estado brasileiro a uma situação muito difícil, é natural que a economia comece a se recuperar, como já está acontecendo. Se tudo der certo, no próximo ano esse peso terrível, que é viver como se ainda houvesse crise, vai deixar a sociedade".
"Mas as pessoas podem dizer: o desemprego está caindo pouco. Tem de olhar é para o emprego. O emprego está crescendo, são 95 milhões de empregados, contra 12 milhões de desempregados. Isso é o que vai fazer a diferença. E à medida que esses que estão empregados ganhem confiança e descubram que o pior já passou, eles terão renda para voltar a consumir. E o consumo no Brasil é 60% do PIB. Os analistas mais pessimistas já falam de um crescimento de 2,5% em 2020".
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção da Bahia, Carlos Henrique de Oliveira Passos, estamos vivendo um momento de "esperança mais consolidada, e de estabilidade econômica, que cria novas condições novas para a classe média investir na casa própria". Passos destacou o período de recessão por qual o mercado passou, já a partir de 2013, de taxa Selic em 14,25%, juros altos, e um número grande de imóveis parados (estoque), após o "boom" vivido.
"A economia, enquanto iniciativa privada, apresenta sinais de crescimento, e na indústria imobiliária há hoje muito mais clareza do que há quatro anos. Nesse período você tinha o Programa Minha Casa, Minha Vida, com bastante tamanho, mas sem possibilidade de crescimento, e os financiamentos com recursos da poupança, que, com os juros altos e o crédito escasso, dificultava bastante. Portanto, hoje o momento é de estabilidade da economia e crescimento muito auspicioso", avalia.
Bahia é destaque na aquisição e construção
"A situação é muito boa nesse momento, o que ajuda muito na redução dos juros de financiamento habitacional e da incorporação imobiliária", declarou o diretor executivo da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP), Filipe Pontual, um dos palestrantes da 30ª Convenção Anual da Ademi-BA, no painel "Mercado Imobiliário, Perspectivas".
"A Selic e a aprovação da Reforma confirmam o bom momento" Filipe Pontual, ABECIP | Foto: Adriano Cardoso | Divulgação"A Selic e a aprovação da Reforma confirmam o bom momento" Filipe Pontual, ABECIP | Foto: Adriano Cardoso | Divulgação
O diretor da ABECIP trouxe dados positivos para o mercado imobiliário na Bahia, em especial a capital baiana. "Com foco na aquisição e construção por unidade da federação, a Bahia tem uma variação muito positiva esse ano, chegando a 1,8 bilhão em relação ao ano passado, de janeiro a outubro", revela.
Em parceria com o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) e Fundação Getúlio Vargas (FGV), a ABECIP faz um outro acompanhamento que é o Índice Geral de Mercado Imobiliário Residencial, um índice de preços usando como base as avaliações de imóveis feitas por associados. "Destacando o movimento de preços até outubro, Salvador tem 2,70 de apreciação, o terceiro maior índice, depois de São Paulo e Curitiba", destaca ele.
"É uma tecnologia que veio pra ficar, é nova internet" Hugo Pierre, palestrante | Foto: Adriano Cardoso | Divulgação"É uma tecnologia que veio pra ficar, é nova internet" Hugo Pierre, palestrante | Foto: Adriano Cardoso | Divulgação
Uma novidade apresentada no evento foi o uso de uma nova tecnologia em transações do mercado imobiliário. "A Blockchain surgiu muito associada a criptomoeda, eu comecei a ver outros potenciais. Primeiramente caímos em cartórios, começamos um projeto para testarmos o potencial e aplicabilidade da tecnologia e vimos que funcionava. Percebemos que 75% da receita dos cartórios advém do mercado imobiliário. Construímos uma grande rede virtual onde todas essas transações pudessem acontecer dentro de uma cadeia digital segura", relatou Hugo Pierre, especialista no assunto e palestrante do evento.